Eu venho de uma vida dentro dos ensinos cristãos. Desde pequena o cuidado com o que vestir fez parte dos legados que recebi de minha mãe e das mulheres da igreja. Mas hoje, as questões que envolvem a modéstia e pudor feminino têm me criado perguntas interessantes, no mínimo.
As garotas de hoje não são como eram as da minha época. Em minha adolescência e parte da juventude, eu não tinha tanto acesso aos conceitos de moda, modinha, estilos: escolha o seu. A gente vestia meio o que tinha, o que foi achado em promoção, e no meu caso, o que a minha mãe costurava. Isso não quer dizer que a gente andava malvestida, mas nos importávamos menos com “o que a it girl tá usando”. As rebeldias na vestimenta femininas estavam em usar calça cargo, macacão jeans, boné, ou uma camisa xadrez enorme. Ser diferente era mais lema que parecer sexy, ser descolada era usar brinco de hippie e jeans rasgado, mostrar a polpa da bunda não soava nada libertador. Tinham aquelas que bancavam “as roqueiras”, tudo preto, um cabelo colorido, ainda assim, o máximo de sensualidade, que eu enxergava nas meninas, era a camiseta amarrada mostrando o ombro ou a barriga. Sim, minhas amigas usavam saias curtas, mas soava até desajeitado, porque não éramos erotizadas desde a infância. As meninas tinham seus primeiros beijos na adolescência, em sua maioria, e transar na adolescência acontecia com algumas, mas não era regra escancarada. Estávamos mais pra Chiquititas do que para os seriados americanos, onde os adolescentes pareciam adultos.
No lado “gueto da igreja”, a santidade de nossas roupas era baseada em comprimento da saia: no mínimo no joelho, o comprimento da blusa: “levante as mãos, se aparecer a barriga, NÃO! E calças, evite o quanto puder, a não ser que seja saia-calça.
Problemas? Rebeldia? De minha parte não, chamar a atenção não era comigo, meus amores eram bem platônicos, eu gostava de um bom jeans largo, eu tinha umas convicções muito minhas, então as regras não afetavam a liberdade que eu julgava importante. Mas não represento a maioria. Sei das muitas meninas que se sentiram altamente oprimidas pelas regras impostas sobre as roupas, eu até as entendo. Ninguém se importava de nos fazer entender o que era bom senso, gastavam pouco tempo perguntando as razões de muitas meninas quererem usar roupas curtas, ou fora das regras. hoje, acredito muito que a falta de diálogo entre nossas lideres mulheres americanizadas, sobre o nosso contexto, e nossas meninas fartas de regras sem explicação, levaram muitas a uma rebeldia simples de ser minimizada na época.
Hoje eu sou a líder de algumas meninas, eu preciso chegar em algumas delas e levá-las a uma reflexão das escolhas de suas roupas. É, a gente precisa refletir sobre o que usamos, está além do que a gente vê no espelho, tem muita coisa sendo dita na forma como nos vestimos, seja na nossa negação de bom senso, seja apenas na justificativa de liberdade. Nossa roupa fala de nossas faltas, nossas carências, do nosso ego, de nossas referências, nosso senso de valor próprio, fala da nossa necessidade de ser vista, de chamar atenção, de ser metade do que a fulana é, ter a atenção masculina voltada pra si. Vivemos na selva do funk e boho-calcinha e as varoas a vácuo com seus vestidos abaixo do joelho, em nada modestos. Vamos combinar, gostamos de bancar ignorantes mais do que honestas conosco mesmas diante do espelho.
Esses dias, eu mesma fui chamada atenção: escolhi a blusa errada pro meu tipo de corpo. A blusa não tinha nada de vulgar, mas sou pequena de tronco, magrinha e pouco seio, qualquer inclinada, aparecia mais do que devia. Meu marido falou comigo, fui tomada de um constrangimento estranho, estive entre a dureza do meu coração, a tendência de alegar legalismo ou o não escolher a blusa por isso e a certeza de que eu preciso prestar atenção a detalhes que faltam ao meu bom senso. De nada adianta as minhas convicções se elas não se refletem em ações, é ser incoerente no mínimo.
Eu quero ser vista como uma mulher que em sua autenticidade de preferencias, age com bom senso. Não para ser o exemplo apenas, porque sim, eu preciso ser a referência de muitas meninas, mas porque entendo que Cristo quer que eu seja alguém que mostre sabedoria, que seja o máximo possível parecida com Ele, e Ele abriu mão de muitas coisas. Nada justifica minha negociação com o Adão e a Eva que habitam em mim, num declive imperceptível eu posso chegar ao ponto de me importar muito mais com o que eu acho e quero do que com a noção do bem comum. Vestir algo que seja sensual ao olhar masculino como se não houvesse amanhã, é não pensar no bem comum de muitas mulheres, ir com uma calça super justa para o culto é ser ignorante a luta sexual de muitos homens em nossas comunidades, continuar sem cuidar com a blusa que eu uso é desrespeitar meu marido e as esposas dos que presenciam isso.
Não existe no cristianismo, “meu corpo, minhas regras”, existe meu corpo não é mais meu, ele precisa ser crucificado todo dia para ser de Cristo, minha vida não é mais minha, é de Cristo, bem mais leve por conta disso. Minha mente não é a fonte primeira de sabedoria ou conhecimento, ela precisa ser transformada na mente de Cristo. Não uso o que quero, porque entre meus quereres está as falhas de uma história imperfeita, está o divã egoísta dos meus direitos seculares, está a generalização justificadora que me fazem esquecer que não sou mais a maioria, sou do grupo que anda na contramão de muita coisa, inclusive sobre o que vestir.
Se em algum momento, soar pesado para mim ou para você enxergar as coisas dessa maneira, temos a alternativa de pular fora desse barco e andar como a maioria. Sem “essas regras”, concordando com o grito ensurdecedor de uma liberdade corporal tão ilusória quanto burra e inconsequente, que dita o feminino hoje. A porta sempre está aberta, Cristo não nos tranca em uma gaiola, ele senta e vê a gente se aproximando da porta muitas vezes, se sairmos, ele não sairá correndo atrás de nós, há uma hierarquia de importância que a Cruz assegura: foi consumado, nunca poderemos negociar com isso, Ele sempre será o mais importante, quer fiquemos ou não.
Pesado é achar que somos donas de nós mesmas e continuarmos a caminhar sem o mínimo de consciência, bancando bobinhas baseadas nas vitrines, na hipocrisia de esconder a sensualidade que nos enche o ego com o andar de menina. Enfadonho é usar nossa carência como fruto de exposição e mecanismo de autopromoção. Nós mesmas nos vemos como produto, e nos vendemos diariamente nas redes sociais por likes, como sangue pra autoestima. Ser mulher inclui aprender a compreender meus limites, o respeito aos que me rodeiam, incluindo meu corpo. Conhecer meu corpo serve para saber que ele é diferente, logo, não existe “o que todo mundo usa”, mas o que eu devo usar. E na selva dos relacionamentos, usar o corpo não garante vitória. Dentro do cristianismo então, é melhor ter bons livros e conhecimento bíblico na cabeça do que causar na roupa do domingo.
Adoro escolher roupas, gosto de combinações, brincos de penas, tranças e franjas, isso me faz ser Mirelli. Deus me fez com preferência estéticas, com temperamento detalhista, mas sei das minhas inclinações de tentar justificar com o estilo a escolha de roupas que não convém usar. Não há nada de errado em vestir, gostar, “look do dia”, ter um estilo, mas nada disso pode sobressair a certeza de nossa missão nesse mundo. O mundo precisa de mulheres Cristãs de alma, não embrulhadas no estilo gospel da última celebridade que se converteu. Chamar atenção por ações, sabedoria, conhecimento, apologética de nossa fé e bom senso nas roupas que usamos, é parte da nossa missão. Não há um espaço sequer de nosso ser que não tenha responsabilidade com isso. Como disse C.S.Lewis: “ Não existe nenhum ponto neutro no universo: cada centímetro quadrado ao nosso redor e cada fração de segundo de nossas vidas está em disputa, para ser reivindicado pelo Bem ou pelo mal. ”
O cristianismo não é um pacote de regras, ele é a verdade que nos chama a reflexão da nossa incapacidade. Quando Cristo diz que sem Ele não podemos fazer nada, inclui a nossa incapacidade de honestidade em nossas escolhas. Por isso não adianta apenas falar o que pode ou o que não pode, e também não adianta só chamar à reflexão sobre no que baseamos as escolhas de nossa forma de vestir, é sempre sobre o relacionamento pessoal entre eu e Deus, você e Deus.
O nosso “pós-moderno” sem absolutos, colocou abaixo as noções de adequado, respeitoso, sensato em uma caixa, inclusive sobre nossas roupas, e nos convenceram que isso nos fazia menos livres. Quem dera… O evangelho é a nossa liberdade de expressão maior, ao ponto de nos fazer entender que muitas coisas em nós, não precisam ser expressas, mas mudadas. Não existe campo neutro, existe a necessidade de um eixo que redefina nosso senso de valor e missão, isso está longe de ser a famosa recém gospel do momento, que continua vendendo imagem sem consciência.
Há muito o que ser dito, quando se aconselha pessoas, a gente fica mais sensível as lutas que elas enfrentam. Homens e mulheres dentro de nossas igrejas, tem carregado marcas profundas por negociar santidade e pureza. Nos cabe desesperadamente a busca por domínio próprio. Não nos justifiquemos, sejamos sinceras, seja a sabedoria ditadora em nós, espalhando o bom sendo, coerência, autoconhecimento e consciência que andam em extinção ao nosso redor.
AH M E U. D E U S!!!!!! Q TEXTO PERFEITO!!!! Orgulhosa de vc, do seu coração lindo, da sua humildade, da sia fidelidade! Vc disse TUDO o q eu sempre quis dizer e nao saboa como! Minha preciosa RUTE! Norinha querida! Quem dera eu consiga ser a sua NOEMI! Te amo. Parabens p toda essa sensibilidade!
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Querida,
Parabéns pelo artigo tão bem escrito;
Parabéns pra tua mãe que te fez essa túnica talar tão linda a ponto de nós esclarecer como nos vestir na espiritualidade da alma;
Parabéns tb pelo reconhecimento e sentimento de que és referência;
Deus te abençoe!
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Parabéns pelo belo texto! Muito bom.
E estou muito feliz por você, pois vê- la escrevendo tão lindo e ver a mulher sabia temente a Deus que você se tornou é maravilhoso.
Deus continue abençoando sua vida e ministério. Beijos
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Amém minha irmã! Muito feliz com suas palavras. Saudades!
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